12.31.2007

there'll be no new romance for me
it's foolish to start
for that old feeling is still in my heart.

12.29.2007

céus, que bagunça. que bagunça enorme.
eu não sei por onde começar a arrumar;
tudo é como um imenso sótão,
coelhos saltando por todos os lados,
gaiolas abertas (oh: e todos os pássaros fugiram),
a poeira se acumulando nos cantos,
adquirindo vida, conversando com o velho piano
(que ainda não se recuperou
da fuga da captain lydia, pobre piano).

seria mais fácil com um martelo.
eu poderia destruir tudo e me livrar de tudo e
ter um sotão vazio e limpo e amplo,
onde eu poderia me deitar sobre a madeira
e observar os cupins perdendo suas asas.
então, eu não teria mais nada a perder,
acho que não existe nenhuma sensação melhor;
e eu sorriria entre os pedaços do que se foi.

mas eu só usaria um martelo como solução última
e, além do que -- martelos são para preguiçosos,
e eu sou prendada como uma formiga.

(certo, certo.)

seja como for. o melhor a fazer agora é
acender um cigarro, respirar fundo,
olhar pela última vez o caos que eu me tornei.
será uma longa-longuíssima faxina.

12.27.2007

mas, dominic, você nunca vai saber
sobre o que eu escrevi para você, está bem?
eu vou manter tudo em segredo, está bem?
e você vai voltar como se nada tivesse acontecido,
e você continuará escrevendo como rimbaud
e se matando, quando fica triste.
você ainda me chamará de twii
e dirá que, se me machucasse,
você seria o primeiro a doer.
nós ainda faremos planos de andar
de bicicleta em um dia de chuva,
fugindo para a montanha mais próxima.
você ainda terá ciúmes de bach.
eu ainda terei ciúmes de tudo o que existe
e que está tão mais perto de você do que eu.
e se você tiver se esquecido de tudo
como eu sei bem que você esqueceu,
não terá importância.
eu farei com que você se lembre.
I've felt worse,
after the curse,
knowing what i shouldn't
be (i like it)
i don't know what i'll do
but lets walk around
and pretend to be messes at sea.

12.26.2007

como será minha noite, hoje:

hospital waste. skinny puppy
ambiantz . skinny puppy
VX gas attack . skinny puppy
lestiduz . skinny puppy
pasturn . skinny puppy
three blind mice . skinny puppy
je suis triste et seul ici . pete namlook
summer - part IV . pete namlook
fall from the stars . god is an astronaut
all is violent, all is bright . god is an astronaut
lost symphony . god is an astronaut
iluvya . thom yorke
black swan . thom yorke
the eraser . thom yorke
and it rained all night . thom yorke
japanese piano piece . the penguin cafe orchestra
sound of someone you love who's going away and it doesn't matter . the penguin cafe orchestra
don't ask . grizzly bear
service bell . grizzly bear
la duchess anne . grizzly bear
bleeding heart . the go find
what i want . the go find
igloo . the go find
city dreamer . the go find
colleen . your heart is so loud
colleen . the heart harmonicon
tiny little fractures . snow patrol
pike . polysics
Mr. ELECTRIC SHOCK . polysics
TV'S HIGH . polysics
make up . snow patrol
sticky teenage twin . snow patrol
shousetsu . radicalfashion
mask . radicalfashion
ballet . radicalfashion
pencil skirt . pulp
underwear . pulp
anorexic beauty . pulp
dip . fourcolor
soaking . fourcolor
in the pool . fourcolor
chain reaction . cloud cult
please remain calm . cloud cult
the deaf girl's song . cloud cult
dance for the dead . cloud cult
alien christ . cloud cult
sweetness . vincent gallo
a falling down billy brown . vincent gallo
a cold and grey summer . vincent gallo
lonely boy . vincent gallo
moo rah rah rah . animal collective
we tigers . animal collective
i fall in love too easily . chet baker
for the damaged . blonde redhead
bipolar . blonde redhead
elephant woman . blonde redhead
misery is a butterfly . blonde redhead
return to me . sparklehorse
box of stars (part one) . sparklehorse
sea of teeth . sparklehorse
mountains . sparklehorse
some sweet day . sparklehorse
more yellow birds . sparklehorse
aquarius . boards of canada
dayvan cowboy . boards of canada

e três ou quatro copos de água
e um milhão de cigarros
e dois comprimidos de buscopan
e o castelo, do kafka.
don't make me fall for you.

12.25.2007

ah, não era para eu voltar desse jeito, mas que inferno.
vou me agarrar ao meu-querido-kafka
e fumar sua marca de cigarros e
pensar em andorinhas descendo em ondas
e batendo na minha janela com seus bicos,
"wake, wake up, paul,
don't be scared, don't believe you're all alone".
não havia presentes debaixo da árvore
e não havia ninguém sorrindo,
e não foi uma noite feliz, não, nem um pouco.
enquanto isso, eu estava vendo mariposas
de veludo roçando flores rosadas com suas línguas
e relâmpagos no céu, como raios-x,
mostrando-me como eu sou de verdade,
como eu sou terrível
exatamente por não conseguir ser terrível.

só faltam cinco dias e eu sei
que eu não vou conseguir
me sentir melhor dessa vez.

it's gonna be another shitty year.

12.21.2007

e mais tarde ela diria
novembro foi um mês ridículo, lembra-se?
além do mais, essas coisas me põem doente.
(e suspiraria.)
é maior do que isso,
é muito, muito mais do que isso.
é assim: uma única pessoa
sendo maior do que um monte
de outras pessoas juntas,
apenas pelo ato de
brotar flores de xícaras.
é maior do que coração quebrado;
muito maior do que qualquer razão
para um coração quebrado.
é olhar pela janela e ver um barco
que se move e se move e se move
mas continua parado.

12.20.2007

pronto, foi a última.
eu só estava me testando, sabe,
para ver se eu ainda consigo acreditar,
mas acho que eu consigo sim.
droga.
eu tinha me prometido que
nunca mais ia inventar essas bobagens sentimentais,
mas, ora essa.



sintomuitos ecoavam pelo quarto.
ela usava apenas meias e acendia um cigarro. ele continuava deitado, olhando para o teto. pequenas mariposas do dia vinham e iam sobre eles, o verão se fazia presente em suas asas que se agitavam descontroladamente, iluminadas pelo sol pálido que pairava desnecessário, por trás de um rebanho de nuvens. o silêncio os cobria como um lençol. mas tudo estava bem, agora. ele espreguiçou-se, sentou-se a seu lado, roubou-lhe o cigarro timidamente.
sintomuito por não tê-la amado antes.
e ela o perdoou.

12.18.2007

"...visto que aquela sala de jantar, proibida, hostil, onde, fazia apenas um instante, o próprio sorvete -- o granité -- e os rince-bouche me pareciam encobrir prazeres malignos e moralmente tristes, porque mamãe os experimentava longe de mim, agora se abria para mim e, como um fruto maduro que rebenta sua casca, fazia jorrar e expandir-se, até meu coração inebriado, a atenção de mamãe, enquanto ela lesse as minhas linhas."

eu sei que não há nada mais detestável
do que citações. ainda mais em blogs.
é, no mínimo, patético, mas --
oh, proust sabia das coisas e eu
tive que, não podia deixar de citá-lo,
ele é doce como uma ameixa,
e as pessoas que dizem que ele é chato
devem ser empaladas com uma de suas
absolutamente perfeitas linhas.
hunf.

12.17.2007

i hope your summer's lots of fun.
hooray for class of '91.
and though we never talked that much,
i hope we always stay in touch.

i wish i got to know you better
and had the nerve to pass the letters
that i wrote to you in class.
i guess the year just went too fast.


i saw you walking with a boy,
holding hands and acting coy,
and, though i'm sure his love is true,
i'd be so very good for you.

i missed my chance, the year is done.
hooray for class of '91.
i hope your summer's lots of fun.
Daina Flores, you're the one.

12.16.2007

eu não estou cabendo no meu quarto, hoje,
mas também, não posso sair.
não se trata da quarentena de
uma doença terrível, feridas brotando
dos meus olhos, meus órgãos açucarando,
não, nada disso. é só que. bem.

vou cantarolar my xylophone loves me até tudo isso passar.

estou estranhamente calma, não sei.
uma borboleta amarela veio e se foi;
nessa época do ano, mariposas, abelhas,
besouros, borboletas, joaninhas,
todos saem para dançar, em círculos pagãos
entoando cânticos do novo ano,
fazendo sacrifícios com formiguinhas.

(ah, não consigo me importar.)

12.15.2007

um dia é apenas um espaço triste
entre dois sonhos felizes.
só isso.
eu acho que posso chegar longe,
acreditando nisso. vamos ver.

12.14.2007

i'll cry gardens while you burn,
because no one here can save you.

the stars are dying in my chest
until i see you again.
pois então, digo-lhe quão agradável é
olhar pela sua luneta e ver

lanternas de papel-de-arroz subindo pelo céu
como milhares de águas vivas oceano adentro,
pontos iluminados como bolhas de sonho
levando más notícias aos anjos que choram cera;

crianças subindo em cadeiras e
saltando para a eternidade com cordas
ao redor de seus pescoços e ainda
assim sorrindo-sorrindo de tudo;

os astronautas transformando-se em flocos de neve,
doce e violentamente penetrando as penetráveis
membranas celestes, tocando estrelas de açúcar,
crescendo asas e novas cabeças e novos corações;

mas nenhum lugar seguro.
i'm too fragile to walk on,
e tudo é tão difícil, e é tão inevitável
sentar-me no topo de um prédio,
rezando para o mundo parar.

12.13.2007

do you miss me, too?
Johnny and I, we got lost tonight, we got carried away, it takes someone like me, to lose track like that, to be troubled down; got a heart full of plans but nowhere to run; there were seventeen dogs out to track us down and i got some bruises and i got a scar, but, now, never gonna let you down.
como eu gostaria de conseguir sorrir
como se todos os dias
fossem o primeiro dia da minha vida.
alors, vraiment,
o problema de ver algo tão bonito
a ponto de mudar as cores do céu.
é o risco que se corre
de nunca mais
nunca
nunca
nunca mais
se ver algo tão bonito assim de novo,
pelo resto da vida.
oh, não. lá vem aquele sol de novo.
isso significa que tudo o que aconteceu
nas últimas horas foi um daqueles sonhos,
uma daquelas alegrias breves:
mariposas que vêm
e pousam
e passam.

é uma pena. era tudo tão bonito.
era tudo a coisa mais bonita que eu já vi,
mas eu estou sendo redundante.
que pena, que pena.
mas divertido mesmo seria, se por
sucção de um aspirador de pó metafórico, gigantesco,
as pessoas pudessem desaparecer, e em duplas.
então eu diria, oi, olá,
gostaria de desaparecer comigo?
e é claro que não seria algo estúpido como algo que ela diria,
óbvio que não, seria absolutamente adorável.
e ele daria de ombros e diria, ah, claro,
não estou fazendo nada, mesmo.

(ah, sim, e é claro que eu seria a única pessoa
com acesso ao aspirador metafórico,
certamente que sim, afinal, eu o inventei.)

então nós desapareceríamos
(como o brilho efêmero de um vagalume)
e todos se perguntariam de quem foi a culpa,
e oh, eles eram tão jovens, tinham a vida toda pela frente.
e eles culpariam os anjos e os demônios
e tudo o que há de intermediário entre eles,
e nunca chegariam a conclusão nenhuma.

e, em algum lugar amplo e triste,
nós estaríamos flutuando, mais leves do que o ar,
entre florescências de nicotina e peixes lilás,
em um oceano de do-ré-mi-fás.
why so green and lonely?
heaven sent you to me.

12.12.2007

céus, meu estômago está morrendo.
se esvaindo em dorezinhas,
se dissipando em bolhas de champagne,
seu tecido fino sofrendo em cor-de-rosa.
quero dormir de agora até para sempre.
que terrível, que terrível.
não se deveria ser permitido doer assim.
hey doctor i don't feel so good.
e as máquinas de lavar, os utensílios domésticos,
a maquinaria hospitalar que respira melhor que os adoecidos?
a janela do quarto, que se abre tal qual desdenhosa boca sem dentes,
sempre emitindo notas graves de uma gargante inifita?
e eu? e o pássaro?
é assim que tudo termina?
os 20s pré-tempestade, aqueles em que as nuvens lilás soluçam,
quase morrendo de dor -- agora são infinitos.
agora são: o tempo todo.
em carrosséis mumificados eu espero, sempre no mesmo cavalo,
sempre apostando que chegare primeiro.
é um tudo um ciclo: lá vou eu, e, porque não? ele também.
ah. já é tão tarde e apesar de eu ter
passado os primeiros cinco capítulos
do livro (não! sim, pois é) para o computador,
não me parece o bastante, sabe,
a história ainda não tem formato nenhum,
não se sabe ainda o que será feito
da pobre natália e o tio-passarinho,
oh, pobres criaturas.
e, que maldição, preciso me esquecer
daquelas manhãs nubladas. afinal,
it never really began
(but in my heart it was so real),
sem querer soar bem nem nada.
e agora, todas as pessoas do mundo estão dormindo
envolvidas nas teias de aranhas que elas
tecem para si mesmas, todas as noites.
eu deveria fazer o mesmo.
mas é tão terrível quando
o céu se abre em uma boca enorme,
cheia de possibilidade;
fico com palpitações, alucinando,
não consigo manter os olhos fechados
por medo de perder algo importante.
ah.
como alguém sobrevive, assim?

12.11.2007

and i'm a jailbird to your music.
you are the odd one.
que droga, eu deveria ter ido dormir,
mas as musas empoleiraram-se na minha janela
com suas camisolas esvoaçantes
e sorriram, e eu tive de ir escrever.
ainda tem muito a ser escrito.
poxa, viu, poxa.

sorte que o bowie vai me ajudar a ficar acordada. (:
ah, cartola.
que terrível, cartola,
me fazer ficar tão triste aqui sozinha
olhando para as paredes, deitada no assoalho
pois bem sei que não queres voltar para mim,
e nem há voltar para lugar algum,
para pessoa alguma,
mas se a música é tão bonita,
tão jardim-abandonado,
e pede que eu chore
de pura mielomeningocele cardíaca,
pois não. eu choro.
pois sim: saudades do menino maurice.
"não sei", dito como se escreve,
com o mais absoluto sotaque de passarinho. (:

vou ouvir tchaikovsky em homenagem
e depois ler sylvia plath
e depois ser boazinha e ir dormir,
ao menos por algumas horas.
agora sim. chá de hortelã
para começar bem a manhã.
mas, afinal, de contas,
aprender com os próprios erros é tão velho.

há um gato de rua miando como louco,
insistentemente, como se confessasse.
mas enfim.

eu prefiro ser para sempre
esta tola deslumbrada.

sim: sempre vou transformar
sangue em tinta aquarelável
estrelas em vagalumes
girassóis em partículas solares. (:
sim, é isso. vou me agarrar ao caderno azul
(ou ao cor-de-rosa, ele é muito mais bonito,
suas páginas ainda pálidas como painas,
tão doces e virginais, lençóis recém-lavados)
e escrever exertos gigantescos de todos os meus dias
até hoje, e de como foi terrível e mais terrível ficou,
e agora já não é tão ruim assim,
mas apenas até a próxima queda, pois
dizer que aprendo com meus erros é
tão ingênuo.
quem sabe assim, quando terminar,
eu possa respirar novamente,
inspirar a manhã toda com seus mil pardais,
encher meus pulmões de borboletas,
e eflúvios da cidade, e todos os sons do mundo.
mas-que-tédio, oh!
se eu pudesse flanar por aí.

talvez essa seja a hora na vida de uma pessoa
onde ela começa a usar entorpecentes
e a agarrar-se nas asas miúdas da fada verde,
só para fingir que ainda é humana
então: não dormi, ou, por outra,
dormi muito pouco;
sonhei que estava na ala dos queimados
em algum hospital, e que,
dependendo, de como eu me deitasse na maca,
algo bom ou ruim aconteceria
(não relacionado a mim, mas universal).
agora é cedo de mais e
já estou de volta a velha casa,
onde tudo é silencioso,
onde só posso fumar através da janela.
acabei de perceber que tenho livros
para devolver na biblioteca, e
nenhum ânimo para caminhar
até a faculdade.
quem sabe mais tarde, muito mais tarde,
quem sabe amanhã.
de qualquer forma, consigo ouvir os pardais,
e o silêncio que emana dos corredores da santa casa;
é uma manhã bonita em higienópolis, como
quase todas as outras, completamente amarela,
como uma maravilha de jardim.
sobre a noite de hoje:
vinho, cigarros, nina & ella
imersas em um oceano de pianos
cantando lover, come back to me.
mas não não, obrigada,
don't come back, you've made your choice.
me sinto o gato de papel que tem pesadelos.
paws dried up from wandering.
meow meow meow e
um pouco mais de vinho
e mais um monte de cigarros,
e eu resolvi que iria fumar menos,
mas, ora, que besteira,
eu estou de férias,
de que outra maneira vou passar as horas?
i get no kick from champagne,
mere alcohol doesn't thrill me at all.
estou pensando em cortinas de teatro novamente.
estou pensando em gatos em telhados
entoando nina simone às estrelinhas enforcadas,
as pequenas escápulas saltadas,
um olho coberto por uma membrana pálida
"para não saber demais".
but i get a kick out of you.
mas que mentira.
melhor ir para a cama.
this time i'm gonna keep me all to myself.

12.10.2007

não: new young pony club.
luzes frenéticas e meninas-perdidas
dançando sobre montanhas de chantilly,
como cerejas obsceníssimas,
quase dando inveja aos flamingos
exibindo-se como doces de padaria, nas calçadas.
far behind the city moans.
e um homem gira uma manivela
e uma canção de tanto-tempo-atrás ecoa pelos paralelepípedos
(e todos os flamingozinhos de olhos sonhadores
com cílios espessos como garras
deixam seus companheiros em alcovas de cetim
e vão até a janela
e cantam).
eu estou a encarnação da nostalgia, hoje.
nada como ouvir patsy cline no escuro,
morrendo de angústia de férias.
i'm crazy for trying
and crazy for crying
and i'm crazy for loving you.
a casa toda está em silêncio,
com exceção do ventilador.
parece o ano passado,
e o ano passado, nessa época,
foi tão lindo.
répteis descendo pelo esgoto,
bolas de natal luminosas,
fuck forever, if you don't mind,
e aquele caderno verde,
e aquele menino que não gostava de mim
e que não gosta até hoje, mas
quem sabe no ano que vem,
nessa mesma época,
as coisas sejam diferentes.
o fato é que
agora não estou sentindo falta de ninguém.
estou pensando em abelhas dançando balés.
assim é muito melhor;
alguém poderia brotar do assoalho e perguntar,
hey, carolina, o que você está fazendo aí?
e eu diria, oh, nada,
só estou aqui fumando meus amados lucky strikes,
pensando naquelas abelhas bailarinas
dando grand-jetés para o deleite da rosada rainha,
que deita viscosos ovos ainda mais rosados
em camas de veludo e pólem,
e não sentindo falta de ninguém.
acho que não preciso mais de opiniões,
a não ser as minhas próprias,
e nem de palavras,
a não ser as minhas próprias,
e nem de abraços.
só de livros, livros: sim.
there's more to life than books, you know,
but not much more.
a mistreated machine can start acting mean.

da próxima vez que tentarem me abrir, trancarei minha pálida porta.
serão apenas MEUS os tomates, et ceteras. (:
eu já passei tantas horas aqui, comigo
que me acostumei a ficar sozinha,
sem qualquer melodrama,
sem pensar em fantasmagorias tristes,
sem pensar em quase nada.
é divertido. me sinto um utensílio doméstico,
uma geladeira: sim, uma geladeira,
exatamente uma geladeira.
não um refrigerador, jamais.
uma geladeira, algo que só é notado
quando há um vazio
(estomacal, no caso).
não é ruim, mas é incômodo
ter suas vísceras remexidas assim, de tempos em tempos,
justo quando estou ocupadíssima,
gelando tomates e caixas de leite,
e limões, laranjas, vermelhos,
concentrada na contemplação de meus pés.
o que fazer de uma primeira
segunda-feira nublada
(quase chuvosa: por pouco)
de férias?
ninguém se lembra de como é entediante
sentar-se na própria cama e esperar
e fumar um, dois, quinze lucky strikes
ouvindo a vizinha lavar o quintal
(o papagaio dando bom-dia a tudo a seu redor,
ansioso por dizer algo mais concreto,
mas limitando-se ao bom-dia que corta seu peito dourado),
até que as férias cheguem.
as cortinas não se mexem.
pardais dançam tangos lânguidos sobre o telhado,
me chamando para dançar também.
acho que não terei uma vida muito longa.
- por que você tem uma gaiola vazia?
ela havia pensado: talvez apenas
uma idéia de pássaro
more ali, e talve ele até cante,
de vez em quando.
(...)
- não está vazia. eu moro lá dentro.
é tão bonito aqui em cima,
eu nunca mais quero descer.

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