1.15.2008

agora que eu me lembrei que
em dois dias eu verei a senhora
dona terapeuta magricela novamente.
eu não tenho idéia do que poderei dizer.

ela vai perguntar, como foras as suas férias,
e eu vou dizer, uma bagunça;
ela vai perguntar, você viajou,
e eu vou dizer, não, mas é como se tivesse;
ela vai perguntar, como você está se sentindo,
e eu vou dizer, morta, moça, mor-ta;
e nem uma palavra mais.

sempre parece que ela está rindo de mim.
eu sei que ela não está, mas eu juro
que percebo o quanto ela me acha ridícula e
oh-mais-uma-daquelas-depressivas-sem-traquejo-social.
ela já me colocou em um arquivo,
na letra B de bo-bo-na.

sem contar que eu falei nomes demais,
da última vez, mas foi só para exemplificar,
e ela perdeu o fio da meada,
"calma, de quem você está falando agora?",
e eu me senti tão mal, e
agora vou ter que falar mais um nome,
provavelmente mais dois nomes,
e ela não vai entender que tudo
só acontece na minha cabeça e
vai me colocar mais fundo no B,
de bis-ca.

então, ela vai pensar, temos aqui
uma pobre coitada depressiva, sozinha,
que, na falta de uma pessoa verdadeiramente
trustworthy, someone who's really there,
refugia-se em
fantastiquices e perversões;
ela anotaria: erotic violence and cuteness;
ela diria: vamos dar remédios a ela
e acabar com essa bolha mágica
e atirá-la à jaula dos leões.

ela vai dizer, por que você não
arranja um emprego, um namorado,
quem sabe?
e eu vou dizer, O QUÊ? madame esqueleto,
não é disso que se trata, eu
não quero sobreviver ao inverno
e, especialmente, não quero ser uma pessoa
normal e controlada, eu só queria,
com a sua ilustríssima aprovação,
que a madame me dissesse que
eu não preciso fit in, que não é necessário
ser tão banal assim para ser, ainda que só um pouquinho,
entre aspas e mais aspas, feliz.
só isso. faça com que eu pare de me odiar,
senão, quando um dia eu perder o controle,
eu juro para a madame que
vou botar toda a culpa em você.
então a madame pode,
por gentilezíssima, dizer aí
tudo o que eu quero ouvir, obrigada.

e é claro que ela não faria isso,
há um osso atravessando seu cérebro,
e ela não faria nada a não ser
dar de ombros e dizer algo detestável,
absolutamente detestável e clichê
como a-escolha-é-sua
ou faça-o-que-bem-entender,
e eu me levantaria, chegaria em casa
e diria

otto, meu querido otto, today was a disaster.

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